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domingo, 22 de julho de 2012

GVces (FGV), entrevista Leandra Gonçalves da SOS

Leandra Gonçalves, coordenadora 
do Programa Costa Atlântica da SOS Mata Atlântica


19/07/2012
Os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra e têm uma importância fundamental para regular todo o equilíbrio climático do planeta, informa a coordenadora do Programa Costa Atlântica da SOS Mata Atlântica

Confira a entrevista.

Na opinião de Leandra Gonçalves, coordenadora do Programa Costa Atlântica da SOS Mata Atlântica, os oceanos são bastante relevantes e poderiam ganhar um pouco mais de atenção da sociedade e dos tomadores de decisão. Na entrevista que concedeu por telefone para a IHU On-Line ela fala sobre a situação dos oceanos no mundo hoje e como o tema apareceu durante os debates da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. “É uma pena que os representantes, os negociadores e os líderes de Estado tenham perdido uma oportunidade tão importante quanto a Rio+20 de ter colocado metas numéricas, que poderiam ser alcançadas em determinados prazos, e ter jogado esse compromisso para 2014 e 2015”.

Leandra Gonçalves graduou-se em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e é mestre em Ecologia e Comportamento Animal pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Trabalhou junto ao Centro de Estudos para a Conservação Marinha – Cemar, participando e coordenando o Projeto Baleia de Bryde. Em 2007, passou a integrar a equipe do Greenpeace Brasil, onde coordenou a campanha contra a caça de baleias, em defesa dos oceanos e a campanha de clima e energia. Trabalhou recentemente com o conflito existente na costa brasileira entre a conservação da biodiversidade e a exploração de petróleo. É aluna de doutorado do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo onde estuda os oceanos no âmbito das conferências das Nações Unidas. Atualmente coordena o Programa Costa Atlântica da SOS Mata Atlântica.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Muitos ambientalistas, apesar de criticarem a Rio+20, apontaram a discussão sobre a preservação dos oceanos como algo importante. Como avalia a discussão que ocorreu na Conferência?

Leandra Gonçalves – Ter o tema dos oceanos como uma das discussões principais da Rio+20 foi relevante, porque pela primeira vez se viu o assunto ter uma cobertura midiática e um acompanhamento da sociedade civil de forma extensa. Também foi a primeira vez que temas relacionados à proteção dos oceanos fizessem parte do texto da Conferência geral. A presença do debate, o envolvimento da sociedade civil, dos atores da academia e de organizações internacionais, é de fato um grande avanço. O lamentável é que pouco se tem de concreto no texto aprovado na Conferência final – ainda muito gasoso, flexível e genérico - que é o que acontece nas conferências internacionais, quando se precisa atingir o consenso de 193 países que apresentam diferentes graus de desenvolvimento e envolvimento com a questão. É uma pena que os representantes, os negociadores e os líderes de Estado tenham perdido uma oportunidade tão importante quanto a Rio+20 de ter colocado metas numéricas, que poderiam ser alcançadas em determinados prazos, e ter jogado esse compromisso para 2014 e 2015.

IHU On-Line – Recentemente você declarou que a criação de áreas marinhas protegidas é a melhor ferramenta para a preservação, recuperação e manutenção dos oceanos, no seu desempenho como regulador do clima do planeta. Qual a função dos oceanos para garantir a sustentabilidade do planeta?

Leandra Gonçalves – Os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra e têm uma importância fundamental para regular todo o equilíbrio climático do planeta. Além disso, são considerados uma das principais fontes de proteína para alimentar a população brasileira e um dos ambientes onde se encontra a maior taxa de biodiversidade. Então, os oceanos têm uma importância bastante grande no que se refere à manutenção desses serviços ambientais. É uma pena, de fato, que muitas das decisões voltadas à questão do meio ambiente sejam estritamente relacionadas às florestas. Não que elas não mereçam a devida atenção, sem dúvida é uma questão importante, mas os oceanos também são bastante relevantes e poderiam ganhar um pouco mais de atenção da sociedade e também dos tomadores de decisão.

IHU On-Line – Como acontece hoje a proteção e preservação dos oceanos? Na prática, como é possível criar essas áreas de proteção?

Leandra Gonçalves – A melhor ferramenta são as áreas marinhas protegidas. São unidades de conservação marinha, espaços protegidos no mar, que devem seguir determinadas regras e regulamentações, mas que têm como função básica produzir e criar espaço e tempo para a natureza se recuperar. Hoje sabemos que os peixes, moluscos, mamíferos marinhos, corais, plânctons, estão constantemente sofrendo pressões de variados vetores. Tem o vetor do aquecimento global; da exploração de petróleo e gás; tem a questão da sobrepesca, da pesca ilegal, da sobre-exploração pesqueira; tem o fato da poluição atmosférica e terrestre; tem o lixo do mar. Todos esses são vetores que ameaçam a biodiversidade marinha. Para que essa biodiversidade se recupere, a melhor forma é o Estado criar essas unidades de conservação, que é o que chamamos hoje de áreas marinhas protegidas.

IHU On-Line – Como vislumbra a possibilidade de uma governança global dos oceanos?

Leandra Gonçalves – Sem dúvida nenhuma, essa é uma necessidade. Hoje, cada país costeiro tem soberania por 200 milhas náuticas a contar do seu limite de costa, ou seja, o Brasil tem que ter governança marinha nacional, ao longo das 200 milhas náuticas da costa brasileira. Para além destas, que é parte da soberania de cada país, ainda nos restam 67% de mar brasileiro que é praticamente o “mar de ninguém”, porque não tem nenhuma gestão, nenhuma regulamentação. Em outras palavras, países que têm condições tecnológicas de ultrapassar esse limite das 200 milhas náuticas, podem fazer nesses 67% de águas “internacionais” atividades exploratórias que bem lhe interessarem. O que se discutiu bastante na Rio+20 foi a necessidade de ter um tratado internacional que fosse, inclusive, destinado a proteger também esse mar que está sem regulamentação.

IHU On-Line – Como o Brasil se posiciona diante das discussões acerca da preservação dos oceanos? Como esse tema aparece na política ambiental do Estado brasileiro?

Leandra Gonçalves – O Brasil, ao longo da discussão da Conferência Rio+20 sobre o tema dos oceanos, foi favorável ao aumento da governança ambiental internacional. No entanto, o que não vemos muito no governo brasileiro é esse mesmo interesse em preservar a zona costeira marinha brasileira. Um exemplo claro disso é a região do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, uma das regiões de maior biodiversidade de todo o oceano Atlântico Sul, localizado no extremo sul da Bahia, onde encontramos a única área de reprodução de baleias jubarte e a maior área de recifes de corais de todo o Atlântico Sul. Além disso, é a região onde sobrevivem mais de 25.000 pescadores e comunidades tradicionais. Essa área hoje sofre ameaças do impacto do aquecimento global, da exploração de petróleo e gás, e também da sobrepesca. O governo brasileiro perdeu a oportunidade, durante a Rio+20 de criar e de ampliar essa área do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, garantindo uma maior proteção à biodiversidade.

IHU On-Line – Qual é a situação ambiental dos oceanos, considerando que acontecem vazamentos de petróleo, por exemplo, no mar? É possível avaliar qual dos oceanos está mais preservado?

Leandra Gonçalves – Em termos de legislação para a proteção do mar, a Austrália e a Nova Zelândia estão entre os países que mais têm interesse na preservação. Recentemente, até durante a Conferência Rio+20, a Austrália anunciou a criação de uma das maiores áreas marinhas protegidas do mundo. No entanto, é muito difícil dizer qual é oceano mais protegido. Mas acredito que o entorno da Austrália e da Nova Zelândia é a região mais protegida no mundo hoje.

IHU On-Line – Como você avalia as discussões em torno da criação do Santuário Atlântico Sul e a reprovação do projeto?

Leandra Gonçalves – Isso é uma pena muito grande. Há mais de 12 ou 13 anos que o governo brasileiro é proponente da criação desse santuário para a conservação de baleias e de golfinhos no oceano Atlântico Sul, juntamente com a África do Sul, a Argentina e o Chile. Todos os anos, ao longo das discussões da Comissão Internacional da Baleia, o governo brasileiro lança a proposta do santuário, mas ela sempre é recusada. É uma pena que o Japão continue anualmente realizando a compra dos votos – o que já foi denunciado por muitas organizações não governamentais –, impedindo a aprovação de mais proteção para baleias e golfinhos na região do Atlântico Sul.

Fonte: GVces - Fundação Getúlio Vargas

Quando a multidão liderar, os líderes seguirão.


Quem é a garota da capa?


Foto de Davi Marcos / Imagens do Povo


A instigante imagem da palhaça de língua de fora acabou estampada na capa da Página 22, edição 65. Mas quem era aquela figura irreverente? Página22 foi atrás de pistas e descobriu a ativista que andava pela Marcha Ré – manifestação contra a aprovação do novo Código Florestal – organizada durante a Rio+20.

Era Tica Minami, “jornalista de formação e ativista de coração”, como ela se descreve. A relação com o movimento socioambiental é de longa data. Tica trabalhou por dez anos no Greenpeace, dos quais oito passou em Manaus. Em 2010 voltou a São Paulo, mas continuou trabalhando com questões da Amazônia, como o Movimento Xingu Vivo. Foi ela, por exemplo, que entrou em contato com atores globais para o Movimento Gota D´água e os convenceu a participar da ação contra a construção de Belo Monte.

Para Tica, a Marcha Ré foi um dos pontos altos da Conferência porque uniu muitos grupos e fez as pessoas pensarem “fora da caixinha”. Ela acredita no poder de ação dos jovens de hoje e na criatividade, como a foto releva. “A arte, o lúdico, a criatividade e o humor são essenciais para estabelecer conexões”, diz. Leia a seguir a entrevista que Tica concedeu a Página22.

O QR Code não tem um apelo visual rápido porque as pessoas precisam tirar uma foto no celular para ver a mensagem. Por que, então, usá-lo numa manifestação?

O grupo da Escola de Ativismo, com quem eu estava, discutiu sobre isso, sobre a barreira tecnológica e sobre ser uma ferramenta elitista porque ainda é muito nova. No segundo setor já é comum ver QR Codes, mas não é algo tão propagado entre as pessoas e entre o terceiro setor. Então entendemos que como ferramenta de campanha chamaria a atenção.

Todo avanço tecnológico é excludente no início. É só com o acesso e com a divulgação que uma ferramenta se torna acessível a todos. Também fizemos essa provocação, de usar algo para deixá-lo mais acessível. E pensamos em outros usos. Imagine participar de uma reunião com governos ou empresas em que você possa fazer uma mensagem codificada e tirar fotos sem o alvo saber o que você quer dizer! É uma forma de usar as ferramentas de comunicação incisivamente e aumentar a pressão política.

O que você quis dizer com a frase do QR Code: “Eu, Tica, estou aqui porque sou uma rebelde que ama a vida e a felicidade mais que a ‘revolução’. #fujadocirco”?

A ideia era explicar porque eu estava na Marcha Global e na Rio+20. É uma provocação. A revolução não pode ser mais importante do que a relação entre as pessoas. Relações mais humanas e pessoas mais felizes já fazem o mundo melhor.

As visões de desenvolvimento, felicidade e qualidade de vida não podem passar só pela lógica economicista como acontece hoje. É uma mensagem sutil, mas é para confrontar o paradigma atual de desenvolvimento e qualidade de vida. É para pensar que uma sociedade mais livre tem outros valores que não só o do dinheiro. No final, por mais livre que a gente ache que é por termos “opções de escolha”, a gente tem que trabalhar muito para pagar a vida quer ter e acaba transformando isso numa prisão.

Às vezes paro em São Paulo, olho e penso “vocês estão todos de carro. Isso não é desenvolvimento para mim”. Eu não consigo entender um país que reduz o IPI do carro para aquecer a economia enquanto registra altos índices de lentidão no trânsito e reporta isso em matérias separadas, como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra.

Essa questão do IPI foi muito falada e criticada em vários eventos da Rio+20. Foi o grande mau exemplo do Brasil.

A discussão da economia verde também foi uma grande polêmica. Enquanto a economia for feita sob a ótica economicista – em que o lucro vem primeiro – não vai mudar nada. A gente vai só pintá-la de verde. E pode ser amarela, rosa ou preta. Não importa a cor, a economia tem que ser realmente nova e ter outros centros de sustentação.

Não é só colocar a natureza dentro da economia. É ao contrário, colocar o fator econômico dentro da lógica da economia ecológica, onde tudo é feito de recursos. Não dá mais pra manter o atual nível de produção e consumo. É impossível termos uma sociedade mais igualitária nesse modelo. Sempre vai haver muita gente com pouco e pouquíssima gente com muito. E esse é exatamente o modelo que eu não quero.

E o que é o Circo do qual temos que fugir?

O Circo é esse sistema. Esse que pinta com gloss, que passa um verniz de liberdade e de igualdade, mas só escraviza e cria mais diferenças sociais. Não acredito que haverá paz assim. Enquanto essas diferenças acontecerem, vão acontecer injustiças. A resistência tem que acontecer mesmo.

Para você, qual o sentido da frase do cartaz “Quando a multidão liderar, os líderes seguirão”?

É uma frase do Gandhi e a ideia era usá-la como mote para mostrar que cada pessoa tem essa centelha e que a liderança é o povo, não o governo. O governo tem que liderar para o povo.

E quem seriam essas multidões que deveriam liderar?

É difícil não ser vago quando se fala em “multidão”. Quando eu digo “o povo”, são pessoas que talvez nem estejam inseridas no ativismo socioambiental, mas que sentem na pele que do jeito que está não dá.

Hoje, tenho uma grande esperança nos jovens, nos artistas e no próprio movimento socioambiental. Vi uma galera jovem lá na Rio+20 engajada e preocupada. E em São Paulo, vejo muitos artistas antenados – desde os de novela, que todo mundo conhece, até os que ficam em seus nichos, como os grafiteiros. Mas ainda é um grande desafio porque a impressão que eu tenho é que o “lado de lá”, além de ter mais dinheiro e poder político, parece estar mais organizado.

Fica sempre uma impressão de que essa “multidão” é um pouco elitista. O movimento socioambiental, por exemplo, fica entre si num grupo fechado e não no “povo”. Como sair disso e como a multidão deixa de ser uma elite?

Essa é uma grande pergunta e um desafio mesmo. Na Escola de Ativismo temos a expressão “como sair da Kombi?”. É como se o pessoal entrasse na Kombi para ir a um lugar, fizesse um monte de coisas legais lá e voltasse comentando na Kombi. Tudo dentro do mesmo grupo fechado.

Como expandir isso? A resposta passa pela linguagem. Por exemplo, quando a discussão do Código Florestal entra nos detalhes técnicos do texto e da tramitação, acaba o interesse de quem não segue o assunto. Tem que haver a informação técnica para quem entende, mas o grande público precisa entender. A ideia é: fale com o outro como se tivesse falando com sua avó. Se sua avó entender, a maioria das pessoas também vai.

Informação só por si só, não mobiliza ninguém. Ela tem que ser um gatilho para despertar emoção, identificação e vontade de envolvimento. A arte, o lúdico, a criatividade e o humor são essenciais para estabelecer conexões, contatos e para que as pessoas se interessem por saber e conhecer mais.

Daí até se vestir de palhaço e ir com uma mensagem bem humorada numa manifestação, não é?

Exatamente. Sair da caixinha é a grande provocação que a gente faz. Marchar, enviar carta para o governo é legal, petição online é legal. Mas falta algo a mais. O que agente pode fazer com pouco dinheiro, com poucas pessoas e que crie um visual legal, chame atenção? E se as organizações deixassem de lado o seu logo e se juntassem, a gente teria realmente uma multidão.

Redação: THAÍS HERRERO/PAG. 22

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